terça-feira, 3 de novembro de 2009

Há um modelo ideal para a abordagem?

Começo esta postagem com uma citação de José Saramago:
“Ao longo da História, as religiões, todas elas, sem exceção, fizeram à humanidade mais mal que bem. Todos o sabemos, mas não extraímos daí a conclusão óbvia: acabar com elas.”


Não vou entrar aqui na questão de quão nociva ao homem pode ser a religião e a crença porque tal empreitada exigira um tempo e um conhecimento que não disponho. Podemos assumir, no entanto, e desde já que o debate religioso é importante e, se não fosse, esse blog não teria razões para existir.

Mas quando digo que o debate é importante não estou querendo dizer que o proselitismo também o seja. É óbvio que qualquer interlocutor participe de um debate sem eliminar suas próprias convicções. Mas onde, como e quando o debate deixa de ser debate (ou melhor: quando realmente é debate?) e se torna pregação?, tanto religiosa quanto atéia?

Ora, o neo-ateísmo propõe não só o debate como a eliminação da crença. Disso todos nós já sabemos, mas, como deve ser feita a eliminação e, melhor ainda, como deve ser feita a abordagem quando o objetivo final é convencer o religioso ou o crente que aquilo em que ele crê não só é falso como é nocivo? (Repito: não quero discutir aqui se a religião e a crença são de fato nocivas.)

No programa 30 Days de Morgan Spurllock (que em breve postarei aqui) uma atéia é convidada a passar 30 dias vivendo com crentes fanáticos. Ambos se respeitam, obviamente, mas o que acontece neste caso, e o que acontece na maioria das vezes em que há um embate, embora eu não tenha nenhum dado para sustentar essa afirmação, é que o crente acaba por reafirmar suas próprias crenças e convicções.

Todos nós concordamos que o diálogo é a melhor saída, mas que tipo de diálogo? O diálogo agressivo? Se assim o fosse, qual seria a diferença entre um pregador das Testemunhas de Jeová que bate em sua porta de manhã e o ateu que vê em toda conversa um motivo para criticar a religião e a crença? Os neo-ateus que concordam com o diálogo agressivo o fazem porque acreditam que tudo não passa de uma disputa: "se os religiosos são agressivos e extremistas então devemos responder com as mesmas armas". Mas quem gostaria de "pertencer a um grupo" (espero as pedradas vindas daqueles que dizem que os ateus não constituem um grupo) que causa mais aversão do que reflexão?

Há de se dizer, nunca houve tantos ateus como ultimamente, e muitos deles estão saindo do armário. Isso acontece devido o novo tipo de abordagem proposto pelos neo-ateus? Se o modelo de "conversão" fosse o diálogo amistoso, ainda assim seria igual a pregação religiosa, não pelo conteúdo, mas pelo próprio compromisso que ambos alegam ter com "A Verdade".

E o problema (e isso pode soar muito demagógico) é que a crença não possui valor igual para o ateu e para o teísta. Como a crença poderia ser fundamental para alguém que não crê? Quando se reclama a cautela na abordagem, é justamente nesse ponto a que nos referimos. Por isso a comparação da crença e da fé com um ponto de vista ou uma leitura que alguém faça sobre a realidade é inválida, mesmo que sirvam como padrões de conduta, ética e moral.

A isso tudo devemos somar o fato de que poucos são os que acreditam no fim das religiões e crenças, ponto de vista esse corroborado pelo próprio Saramago. Então, convém nos fazer essa pergunta, qual o sentido dessa empreitada? O puro exercício? Qual o sentido do debate se sabemos que a humanidade nunca vai ser esclarecida?

por Stockler

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O polêmico Olavo de Carvalho

Trago para vocês um vídeo do youtube com o áudio de um bate-papo com o filósofo Olavo de Carvalho, conhecido provavelmente por muitos de vocês.

Aqui ele fala um pouco da dicotomização Ciência x Religião, criticando o chamado "neo-ateísmo" e também a religiosidade ignorante, aquela que fundamenta-se apenas no Sei porque Sei.

O link é: http://www.youtube.com/watch?v=-2t358w_l2o

Não concordo com 100% das coisas que ele diz, mas acho algo bom para discussão. Se procurarem um pouco mais encontrarão outros áudio do filósofo falando sobre este mesmo tema. Acho oportuno porque é comum essa dicotomização Ciência x Religião ser feita da forma como ele critica.
Além de termos recentemente debatido com outro usuário (Janos Biro) sobre razão e fé, e este defendia a soberania, imutabilidade, dogmatização radicalismo da Fé pela Fé, acreditando que procurar trazer a temática para o debate é submete-la a uma avaliação de uma corrente de pensamento específica, limitada, própria de nossa cultura e que o que ele crê é A Verdade apriorística sem precisar estar submetida a quaisquer outras coisas (nem mesmo para modificações e correções, já que é imutável), como razão, senso, cultural, moral, alteridade ou realidade (que não a sua realidade interna, da certeza subjetiva).

Obviamente discordo em absoluto dessa posição (assim como praticamente toda a Teologia, como também aponta o filósofo Olavo de Carvalho neste e outros audios)e acredito que este pensamento é o que faz o pensamento religioso ser tão combatido atualmente. É o pensamento que dá margem a coisas terríveis em nome da fé - por ser uma certeza pessoal insubordinada - quando nada mais são do que sujeitos problemáticos que instrumentalizam a fé, as religiões. Vários destes têm A Certeza, de que conheceram A Verdade, que isso não é dele porque pode ser encontrada em determinado Livro Sagrado (que portanto não é SUA leitura, é A Leitura deste texto sagrado, única e Verdadeira) e baseado nisso, já que é uma Certeza, tomam suas atitudes desmedidas, supostamente para o Bem, seguindo o que lhe foi Revelado (conduz sua vida por isso - o que já é prejudicial por ser insubordinado).

Em suma, estou concordando aqui com o teólogo postado pelo Sampaio, que fala do Ateísmo Cristão. Acho que neste ponto estou de acordo com os ateus e acho que este tipo de vivência e práxis religiosa deveria sim ser combatido.

(mas continuo achando que isso não significa dar crédito ou apoio algum ao que fundamenta o pensamento ateu)

Abraços


por Coscarelli

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ensino Religioso nas Escolas Públicas

LEI N. 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
Artigo 33º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os
cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus
responsáveis, em caráter:
I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrado
por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas
igrejas ou entidades religiosas; ou
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se
responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa.


Não há como fugir das polêmicas. A polêmica do ensino religioso nas escolas públicas, apesar de ter propiciado até um debate na MTV, anda meio mal das pernas e não vejo ninguém mais tratando do assunto com a eloquência de antes (ainda assim não é o suficiente para que o declaremos como morto). Alguns diriam que há mais coisas importantes com as quais devemos nos preocupar. Não é mentira.

No entanto, chamo aqui atenção à ambiguidade dessa lei (embora iso não seja exclusividade sua). Ora, se o ensino religioso tivesse, ao contrário do que ocorrerá na prática, um foco na histórias das religiões como um todo e de seu papel na sociedade e na história da humanidade, a idéia seria louvável. Mas é conveniente dizer que deste modo a grade da matéria não caberia em um ano letivo porque seria tão extensa quanto a própria história do homem. Assm sendo, seria inevitável que a disciplina acabasse por se concentrar nas religiões monoteístas e principais afinal são elas as que demandam maiores atenções.

Outro problema é a formação dos nossos professores. Qual garantia teríamos de que a disciplina não acabaria por se tornar uma apologia cristã?

Não vale a pena me alongar neste assunto. Há outros trocentos problemas (discriminação é um deles), mas quero evitar os clichês. Peço que os leitores do blog exponham suas opiniões aqui.

por Stockler

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Louis Theroux e a Westboro Baptist Church

Eu vinha prometendo a mim mesmo escrever um artigo sobre o Ensino Religioso nas escolas públicas do Estado, mas tive a sorte de ser detido. Acontece que, passeando pelos canais de televisão, algo me despertou a curiosidade.

A GNT está transmitindo uma série de reportagens especiais feitas pelo britânico Louis Theroux da BBC. As reportagens possuem temas variados, mas basicamente seguem o mesmo modelo; Theroux se infiltra num micro-universo para explorá-lo e confrontá-lo com o seu ponto de vista. Além da convivência com uma família de Batistas norte-americanos, Theroux explorou a violência dos guetos sul-africanos e a relação entre prisioneiros e guardas na prisão de San Quentin, Califórnia. Os documentários são recentes e este do qual falo possui 60 minutos.

O micro-universo escolhido por Theroux na reportagem alvo deste artigo é uma numerosa família da cidade de Topeka, Kansas, que serve como massa de fiéis para uma igreja cujo próprio pastor e fundador é o seu patriarca, Fred Phelps. O nome da igreja é Westboro Baptist Church e, apesar do nome, não parece ter quaisquer vínculos com o legado dos anabatistas de Thomas Müntzer. Aliás, as próprias igrejas batistas americanas negam a oficialidade da igreja de Westboro.

Quem possui algum conhecimento do idioma inglês não pode deixar de assistir ao documentário (o link encontra-se logo abaixo). Embora todos nós saibamos que o fanatismo e a imbecilidade existe no mundo, especialmente nos Estados Unidos, e provavelmente nunca será eliminada, é impossível ser frio e não esboçar nenhuma reação repulsiva quando vemos estas coisas. Por isso é necessário que sejamos sempre lembrados. No documentário vemos um pastor que alega ter todos os conhecimentos necessários sobre a bíblia e a as religiões do mundo, mas que desfila uma quantidade imensa de absurdos. Pais e mães fazem cartazes ("God Hates Fags!", "God hates America", "You're going to hell" etc.) para serem exibidos nos enterros de soldados mortos em batalhas. O pior é que, na linha de frente do pelotão, quem leva os cartazes são as crianças que, uma vez questionadas, não sabem responder nada a respeito daquilo que acreditam.

Ah sim, mas não pense que ninguém escapa desse circo de horrores. O pastor possui quatro filhas que abandonaram essa vida. É o suficiente pra sabermos que, mesmo que você nasça nesse meio e sofra com as lavagens cerebrais, sempre há como sair.

Segue a primeira parte do documentário e o link para o site da Westboro Baptist Church:

The Most Hated Family in America -> http://www.youtube.com/watch?v=gSFrNOnvtls
Westboro Baptist Church -> http://www.godhatesfags.com/

por Stockler

sábado, 10 de outubro de 2009

Em Defesa do Ateísmo (Cristão)

Me passaram hoje um link muito interessante: o jesuíta Ryan Duns (e tenho uma simpatia declarada por vários pensadores jesuítas) escreveu dois artigos defendendo o ateísmo não-radical, bem elaborado e que defende valores humanos, o que ele chama de ateísmo cristão.

Para quem sabe ler em inglês é uma excelente recomendação, quer concorde com ele ou não. No mínimo é um ponto de vista incomum se comparado com a maioria que costumamos ver/ouvir/ler por aí:

http://ryandunssj.blogspot.com/2009/04/return-to-christian-atheism.html

http://ryandunssj.blogspot.com/2007/03/in-defense-of-christian-atheism.html

Se alguem animar de fazer uma tradução postaremos aqui.

Eu mesmo tenho minhas reticências com relação ao que ele diz. De modo geral fico realmente muito contente que existam cristãos convictos que compreendem bem o ateísmo e não querem combate-lo, pelo contrário, querem combater a ignorância e esse caminho se cruza com o de muitos ateus.

Mas discordo que o ateísmo humanista possa ser chamado de cristão, já que os valores que ele associa com o que Cristo pregou são bem anteriores a este profeta e muitas outras coisas ditas por Cristo não condizem em nada com essa visão humanista do ateísmo que ele menciona.

Enfim, já me excedi, porque não quero elaborar de fato um post sobre isso, deixarei que cada um leia e emita sua opinião.

Abraços


por Sampaio

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Alguns princípios...

Quero que fique clara minha posição sobre esse debate antes que nos degladiemos desnecessariamente. Não sou contra a crença, não sou contra a fé e nem quero exterminá-las. Ao meu ver tais tentativas em exterminá-las são tão ou até mais utópicas que qualquer outra febre em qualquer outro período da humanidade. Febre é o termo que melhor resume o rumo que o comportamento ateístico (não falarei aqui das exceções, porque elas confirmam que há, de fato, uma regra) tem tomado.

Nunca li nada de Dawkins, nem de Onfray, nem de Hitchens ou qualquer outro que faça parte desse clã. Tudo o que sei sobre eles me chegou às mãos por meios de terceiros. Claro que já vi um vídeo ou outro, ou algumas citações onde apareciam, mas não é um conhecimento profundo. É preciso ter isso em mente porque não ataco diretamente esses autores. Se eu o fizesse, minha leitura de suas obras seria, aí sim, fundamental. O que discuto aqui é o exército formado por esses cientistas e filósofos. Claro que, talvez, nem tenha sido essa a intenção dos próprios e, vindo do alto para baixo, muito do conhecimento se perde e é banalizado, até mesmo utilizado de maneira errônea e com outras finalidades. Nem tudo o que os ateus fazem é culpa desses autores porque o "movimento" ateístico é muito maior que eles e suas obras sintetizam o espírito de algumas pessoas em uma determinada época, como assim o fizeram outros autores e outras obras, ainda que esse espírito nem seja o espírito dominante de uma época. Na minha opinião este último nem existe.

A fé não é uma infantilidade do intelecto humano. É um componente dele. Aliás, acho até que a fé e razão, a fé e o homem são indissociáveis. Como poderíamos ter passado pelo Século XIX sem que tivéssemos uma fé no "progresso" e a fé de que, com o tempo, o desenvolvimento científico traria o bem-estar (pois que estavam atrelados [esses pormenores podemos discutir nos comentários])? Outros exemplos são convenientes porque a fé não é exclusiva de um período histórico. Os romanos tinham fé em sua superioridade sobre os outros povos, assim como os gregos e qualquer outro império. É a mesma fé "civilizatória" que tanto movimentou as missões européias durante o século XVI ao XX.

A fé em algo divino seria apenas uma classe de fé. Seria só uma das várias interpretações possíveis da realidade. O problema é óbvio; se os outros tipos de crença que citei anteriormente minguaram (não tanto assim como pensamos, porque deixaram heranças), a fé em algo divino só não o fez porque esse algo divino é invisível na prática (portanto impossível de ser comprovado ou de ser superado [não falo das especificidades desse tipo de fé]) e atemporal. Essa é a ordem de fé que acompanha a humanidade desde o início. Desde antes da civilização.

Mas esse discurso todo seria desnecessário se eu não dissesse para onde devemos apontar nossas armas; a instituição religiosa, que limita a fé e a transforma num instrumento (assim como qualquer outra instituição). Cabe aqui nos perguntar se o problema com a fé é a doutrinação moral (a dúvida da existência regendo a sociedade) ou os malefícios que causam (embora tais malefícios não sejam monopólio da crença ou da instituição em si). Creio que qualquer leitor ateu responderá que são as duas coisas.

Acho que já temos questões o suficiente para debatermos até o cansaço. Ao longo da minha estada neste blog voltarei aos parágrafos deste texto que guardam, cada um, incontáveis questões. Paro por aqui.

por Stockler

domingo, 4 de outubro de 2009

Breve Introdução à Postura Cética Nesse Debate

Gostei e muito do post do Coscarelli, intitulado "A Importância deste debate", de modo que posso dizer que concordo com praticamente tudo que ele disse. Achei um post sensato, lúdico e com todo o espírito necessário para um debate de qualidade. Mais do que isso, fiquei feliz por ele ter apontado e argumentado tão bem o quão relevante este debate também é para aquele que crê, já que muitas vezes os religiosos esquivam deste debate.

Gostaria de ressaltar um trecho de seu post:
"Porque àquele que crê cabe, no mínimo, esclarecer que sua fé não aquela que é atacada pelos ateus mais fervorosos ou, se é, cabe ouvir estas críticas e reexaminar esta fé; e aos descrentes cabe ouvir isso, refletir e perceber até onde as críticas de fato procedem."
Espero que isso seja realmente posto em prática aqui e que este "reexaminar sua fé" envolva também a possibilidade de abandona-la, se julgarem que há motivos para descrer.

Por isso fiquei bem surpreso ao ver um leitor do blog muito incomodado com este post. Paradoxalmente eu, que me digo ateu, não concordo com quase nada que este leitor disse e, se é importante para o Coscarelli esclarecer a postura religiosa neste debate - o que ele fez muito bem - também acho importante esclarecer minha postura como cético.

Meu posicionamento diante da religião, das crenças religiosas e afins, é a mesma que a maioria de vocês têm com relação a maioria das coisas: questionar aquilo e ver se há motivos para acreditar naquilo ou apoiar, se for o caso. Procuro estudar e debater muito sobre o assunto, já que é algo tão relevante (como apontou Coscarelli) e por enquanto não vejo, sequer vislumbro, alguma razão para dar crédito às religiões e suas crenças.

Por enquanto ainda não foram apresentados aqui argumentos à favor da crença em Deus, Cristo, Livros Sagrados, milagres, outras coisas sobrenaturais e dogmas, mas estes invariavelmente virão. Cabe ao cético examinar estes argumentos e ver se procedem ou não. Afirmo com segurança que nunca estive diante de argumentos favoráveis a estas questões que sobrevivessem a uma exame um pouco mais crítico e por isso que tantos autores hoje alardeiam o fato de que não existe sequer uma evidência a favor da existência de Deus (ou de quaisquer outras divindades).

Dado isso, é importante esclarecer também uma outra coisa: não cabe ao cético apresentar provas de que Deus não existe. Isso se deve a algo bem conhecido, chamado ônus da prova. E o ônus da prova cabe a quem afirma. Citarei aqui um famoso trecho escrito por Bertrand Russel:

“Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez de os dogmáticos terem de prová-los. Essa idéia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá chinês girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade.” Bertrand Russell

Essa é, como adiantei, a postura da maioria de vocês (mesmo que não façam isso conscientemente) diante de praticamente todas as coisas em sua vida - com exceção talvez, se você for um fiel, à sua crença religiosa. Então se alguem lhe diz que existem pequenas fadas invisíveis que controlam secretamente o governo dos Estados Unidos e planejam bombardear o Brasil porque aqui moram os duendes invisíveis, dificilmente você achará que isso é uma verdade simplesmente porque não pode ser provado que é falso.

Se este exemplo parece esdrúxulo e distante para você, peguemos exemplos de outras religiões, como a Cientologia. A Cientologia diz que somos alienígenas presos no corpo de humanos porque fomos expulsos pelo lorde intergalático e malígno Xenu de nossos planetas e jogados nos vulcões da Terra, aonde morremos e nossas almas finalmente entrarem nestes primatas que somos. Dificilmente você acha que isso é verdadeiro simplesmente porque não pode provar que é falso.

O mesmo é aplicado ao teísmo, cristianismo, islamismo e outros, de modo que a popularidade de uma crença não a torna mais verdadeira (ou os deuses egípicios, gregos e nórdicos estão escondidos por aí).

Tenho várias outras considerações sobre este debate, mas deixarei para outros posts. Espero que tenham compreendido o básico dessa postura questionadora que acredito ser a mais sensata.

Pra finalizar, gostaria de retomar novamente o Coscarelli, que compreende muito bem o cético quando diz: "e aos descrentes cabe ouvir isso, refletir e perceber até onde as críticas de fato procedem."
É justamente isso que o leitor que comentou o post do Coscarelli não fez. Ele foi parcial, afoito, agressivo, fez diversas generalizações e distorções. Isso tudo em dois breves comentários!

Por isso que acho importante ressaltar que a postura vista ali não é a minha diante deste debate, nem a de todos os ateus, agnósticos e/ou céticos. Da minha parte procurarei sempre o discernimento que sugeriu e, caso eu esteja fazendo críticas que não procedem, que me apontem para que eu reflita e, se for o caso, abrirei mão desta crítica sem o orgulho que tantas vezes é o que mantém as pessoas insistindo por não quererem admitir que estavam erradas.

E espero o mesmo de todos.

por Sampaio