sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O polêmico Olavo de Carvalho

Trago para vocês um vídeo do youtube com o áudio de um bate-papo com o filósofo Olavo de Carvalho, conhecido provavelmente por muitos de vocês.

Aqui ele fala um pouco da dicotomização Ciência x Religião, criticando o chamado "neo-ateísmo" e também a religiosidade ignorante, aquela que fundamenta-se apenas no Sei porque Sei.

O link é: http://www.youtube.com/watch?v=-2t358w_l2o

Não concordo com 100% das coisas que ele diz, mas acho algo bom para discussão. Se procurarem um pouco mais encontrarão outros áudio do filósofo falando sobre este mesmo tema. Acho oportuno porque é comum essa dicotomização Ciência x Religião ser feita da forma como ele critica.
Além de termos recentemente debatido com outro usuário (Janos Biro) sobre razão e fé, e este defendia a soberania, imutabilidade, dogmatização radicalismo da Fé pela Fé, acreditando que procurar trazer a temática para o debate é submete-la a uma avaliação de uma corrente de pensamento específica, limitada, própria de nossa cultura e que o que ele crê é A Verdade apriorística sem precisar estar submetida a quaisquer outras coisas (nem mesmo para modificações e correções, já que é imutável), como razão, senso, cultural, moral, alteridade ou realidade (que não a sua realidade interna, da certeza subjetiva).

Obviamente discordo em absoluto dessa posição (assim como praticamente toda a Teologia, como também aponta o filósofo Olavo de Carvalho neste e outros audios)e acredito que este pensamento é o que faz o pensamento religioso ser tão combatido atualmente. É o pensamento que dá margem a coisas terríveis em nome da fé - por ser uma certeza pessoal insubordinada - quando nada mais são do que sujeitos problemáticos que instrumentalizam a fé, as religiões. Vários destes têm A Certeza, de que conheceram A Verdade, que isso não é dele porque pode ser encontrada em determinado Livro Sagrado (que portanto não é SUA leitura, é A Leitura deste texto sagrado, única e Verdadeira) e baseado nisso, já que é uma Certeza, tomam suas atitudes desmedidas, supostamente para o Bem, seguindo o que lhe foi Revelado (conduz sua vida por isso - o que já é prejudicial por ser insubordinado).

Em suma, estou concordando aqui com o teólogo postado pelo Sampaio, que fala do Ateísmo Cristão. Acho que neste ponto estou de acordo com os ateus e acho que este tipo de vivência e práxis religiosa deveria sim ser combatido.

(mas continuo achando que isso não significa dar crédito ou apoio algum ao que fundamenta o pensamento ateu)

Abraços


por Coscarelli

3 comentários:

  1. Mas, Coscarelli, isso não abriria espaço para que questionássemos os dogmas e, afinal, a própria fundamentação da doutrina religiosa? E se ela estivesse suscetível a isso, aquela suposta Verdade, e a própria Crença (por serem mutáveis), iriam por terra. Ora, uma Verdade (aquela Verdade religiosa, da crença) que se "atualiza" não é uma Verdade.

    E quanto ao Janos, pelo que entendi, o problema é a diferença de linguagem. A razão, a lógica, a epistemologia, e toda a forma de se obter conhecimento a partir da ciência e de meios "racionais" se difere por completo daquela que seria a maneira de se conhecer Deus. Assim como há outros meios de se conhecer uma coisa.

    ResponderExcluir
  2. Eu havia escrito uma extensa resposta, que se perdeu devido a problemas na minha conexão. Sei que vocês compreendem como isso é frustrante, portanto entenderão se eu for bem mais sintético - e não tão eficiente - agora.

    Stockler, a questão é que a fé NÃO irá cair terra abaixo por causa destes questionamentos. O fato do tema ser passível de debate não significa sua derrocada e é isso que poucos ateus e religiosos compreendem, por pura falta de preparação. Não culpo ninguem por isso, mas o que venho defendendo desde o princípio, e o que Olavo de Carvalho também expõe neste vídeo, é que não há razões para temer este debate. A posição do fiel é muito bem sustentada, por filósofos, teólogos, etc.

    Portanto, quando o Janos faz sua proposta, acredito que seja pelo fato dele ser um ex-ateu e, apenas através desse SENTIR, dessa certeza, que conseguiu encontrar o divino, já que passou um tempo sendo ateu e verificando que pela razão a existência de Deus não era justificada. Só que isso não é verdade, e tema de teólogos e filósofos a milhares de anos. Só que o que chega a maioria das pessoas éa chamada "cultura de massa intelectual", ou seja, a mesma seleção de conteúdo feita a massa é feita ao intelectual atualmente, ficando selecionado aquilo que "vende" mais, que é mais polêmico. Está aí a popularidade de Nietzsche, que no campo do debate sobre religião é um pensador paupérrimo.

    E Stockler, há uma outra confusão aí, bem comum: nao é Deus ou a Verdade que é mutável e atualizante, é a nossa compreensão destes. O que é imutável é justamente aquele transcendente que comentei anteriormente com Janos, aquele "das ding" ("a coisa"), que todo fiel sente e possui, aquilo que encontramos aonde nos faltam as palavras.

    Agora, todo o resto é sim susceptivel à mudança, felizmente. A nossa tentativa de colocar em palavras, nossa busca por compreender este mundo criado por Deus, nossa procura por compreender o que nos foi dito, o que podemos fazer, tudo isso passa pela razão e é aprimorável. E, repito aqui o fundamental: fiés, não precisam ter medo de usar seu cérebro! Ele também foi dado por Deus e sem ele não haveria como ter essa compreensão.

    Afinal de contas, por mais que alguns ainda não tenham percebido isso, é indissociável a constituição de sua fé de sua razão e cultura. Por exemplo, se você LEU algo nas Escrituras, isso já está incluido no fato de você fazer parte de uma comunidade linguística específica, com formação de sentido específica, com conhecimento anteriores sobre aquilo que leu específicos, com conhecimentos históricos, métodos para a compreensão, com sua razão e seu sistema próprioceptivo fazendo relação daquilo que lê com aquilo que sente e observa (em você e no mundo),etc.
    E isso é apenas o simples ato de LER, aonde podemos também analisar cada outro pequeno aspecto da mesma forma (e de maneira até mais extensa).


    Mas isso seria em vão. Espero ter sido compreendido aqui.

    Portanto, se a fé fosse apenas o fragmento da Certeza, insubordinada, o Sampaio teria razão (logo, não tem), pois a fé do Janos não teria diferença da do Bin Laden. No entanto, essa diferença existe porque enquanto um procurou compreender melhor algo, por meio de sua razão, observação do mundo e de sí mesmo, outro apenas aliou esta sua certeza com suas ambições e não fez justamente essa busca por compreensão.

    Logo, não apenas faz parte como é FUNDAMENTAL o debate sobre esta temática e ele é, felizmente, atualizante, a medida que procuramos compreender melhor e transmitir essa compreensão. É, novamente, todo o propósito da Teologia.

    Abraços

    ResponderExcluir
  3. Como fui citado, gostaria de responder que eu não vejo contradição entre fé e razão. O que eu não posso concordar é com a explicação da fé por meio da razão emancipada da modernidade. Pois nós sempre partimos de axiomas, mesmo quando usamos as ferramentas dos método científico. Não temos acesso direto à verdade, nós sempre partimos de pressupostos inquestionáveis, porque uma vez questionados, eles colocam abaixo todo o edifício do saber, nos tornando incapazes de distinguir entre branco e preto.

    Não se trata disso que fui acusado. Mas quando se pretende fazer debate sobre um tema, esse debate pressupõe regras. É como tentar fazer diálogo entre matemática e arte: ou aceitamos as regras da matemática na arte, ou aceitamos as regras da arte na matemática, para a qual 2 + 2 pode ser 5.

    Não que não se possa falar racionalmente da fé. Pelo contrário. A fé pode ser evidenciada. O que eu discordei não foi da possibilidade de se fazer isso, mas do modo com que você estava pretendendo fazer isso, partindo da relativização de pressupostos basilares, dos quais não temos condições de abrir mão sem ficar flutuando no vácuo.

    Eu creio que você foi intolerante em considerar que todo aquele que afirma que a Palavra revela a Verdade por meio da Luz que é Jesus, e clareia o Caminho que leva à Salvação, está sendo insubordinado e anti-teológico.

    Pois sigo a seguinte passagem: "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2

    Quero dizer que é possível sim experimentar, ter ciência experimental, da boa vontade de Deus. Mas o pré-requisito para isso é a renovação da mente. Velhas mentes, conformadas com o espírito do seu tempo, irão no máximo ter falsas crenças, porque permanecem num esquema conceitual incapaz onde a existência ou não existência de Deus faz pouca ou nenhuma diferença em sua vida.

    Se seu sistema de crenças comporta o humanismo, então essa é a verdadeira razão da nossa discordância.

    Se a crença em Deus é plenamente justificada por sistemas teológicos e filosóficos, joguemos fora a Palavra, fiquemos com estes sistemas, criados pela mente humana, que são melhores que palavra de Deus. Mas sei que não foi isto que você quis dizer. Só acho que sua posição parte de uma crença de que é possível haver um avanço da razão humana em direção à compreensão de Deus. Nesse sentido, eu concordo com o teólogo Karl Barth. O homem é incapaz de dar um passo em direção a Deus, mas é Deus que alcança o homem e que, pela ação do Espírito Santo, o torna capaz de compreender as coisas de Deus, racionalmente. Pode ser que tenhamos concepções diferentes do que significa razão, uma vez que o seu conceito me parece ser o da razão emancipada, razão do próprio homem, enquanto eu falo de uma razão auxiliada por Deus, e novamente enfatizo que não descarto debates, tanto que estou aqui discutindo, mas que discordo da sua posição teológica, não da teologia como um todo.

    Nossa compreensão acerca de Deus pode mudar, mas sem perceber que a vontade de Deus é boa, sem ação do Espírito Santo, a Bíblia é apenas um livro sem sentido, que pode ser interpretado como você quiser. O perigo de colocar tanta confiança no poder humano de decifrar o mistério divino é tratar Deus como um objeto inerte, que sofre uma ação de dissecação por parte da mente humana.

    Deus não está parado esperando que nós O encontremos. Ele se move em nossa direção, Ele se manifesta. Não apenas se coloca diante de nós como nos dá a visão. É claro que Ele também espera de nós algum esforço cognitivo, não se trata de não usar o cérebro, mas nesse sentido, aquilo que vem por meio de uma cultura ateizante mais atrapalha do que ajuda.

    Crer em Deus é muito fácil, difícil é praticar, e o verdadeiro ateísmo não é deixar de crer em Deus, mas virar as costas para Ele e viver como se Ele não existisse, como se o homem bastasse a si mesmo, seguindo apenas meus próprios fins.

    ResponderExcluir