Gostei e muito do post do Coscarelli, intitulado "
A Importância deste debate", de modo que posso dizer que concordo com praticamente tudo que ele disse. Achei um post sensato, lúdico e com todo o espírito necessário para um debate de qualidade. Mais do que isso, fiquei feliz por ele ter apontado e argumentado tão bem o quão relevante este debate também é para aquele que crê, já que muitas vezes os religiosos esquivam deste debate.
Gostaria de ressaltar um trecho de seu post:
"Porque àquele que crê cabe, no mínimo, esclarecer que sua fé não aquela que é atacada pelos ateus mais fervorosos ou, se é, cabe ouvir estas críticas e reexaminar esta fé; e aos descrentes cabe ouvir isso, refletir e perceber até onde as críticas de fato procedem."Espero que isso seja realmente posto em prática aqui e que este "reexaminar sua fé" envolva também a possibilidade de abandona-la, se julgarem que há motivos para descrer.
Por isso fiquei bem surpreso ao ver um leitor do blog muito incomodado com este post. Paradoxalmente eu, que me digo ateu, não concordo com quase nada que este leitor disse e, se é importante para o Coscarelli esclarecer a postura religiosa neste debate - o que ele fez muito bem - também acho importante esclarecer minha postura como cético.
Meu posicionamento diante da religião, das crenças religiosas e afins, é a mesma que a maioria de vocês têm com relação a maioria das coisas: questionar aquilo e ver se há motivos para acreditar naquilo ou apoiar, se for o caso. Procuro estudar e debater muito sobre o assunto, já que é algo tão relevante (como apontou Coscarelli) e por enquanto não vejo, sequer vislumbro, alguma razão para dar crédito às religiões e suas crenças.
Por enquanto ainda não foram apresentados aqui argumentos à favor da crença em Deus, Cristo, Livros Sagrados, milagres, outras coisas sobrenaturais e dogmas, mas estes invariavelmente virão. Cabe ao cético examinar estes argumentos e ver se procedem ou não. Afirmo com segurança que nunca estive diante de argumentos favoráveis a estas questões que sobrevivessem a uma exame um pouco mais crítico e por isso que tantos autores hoje alardeiam o fato de que não existe sequer uma evidência a favor da existência de Deus (ou de quaisquer outras divindades).
Dado isso, é importante esclarecer também uma outra coisa: não cabe ao cético apresentar provas de que Deus
não existe. Isso se deve a algo bem conhecido, chamado
ônus da prova. E o ônus da prova cabe a quem afirma. Citarei aqui um famoso trecho escrito por Bertrand Russel:
“Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez de os dogmáticos terem de prová-los. Essa idéia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá chinês girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade.” Bertrand RussellEssa é, como adiantei, a postura da maioria de vocês (mesmo que não façam isso conscientemente) diante de praticamente todas as coisas em sua vida - com exceção talvez, se você for um fiel, à sua crença religiosa. Então se alguem lhe diz que existem pequenas fadas invisíveis que controlam secretamente o governo dos Estados Unidos e planejam bombardear o Brasil porque aqui moram os duendes invisíveis, dificilmente você achará que isso é uma verdade simplesmente porque não pode ser provado que é falso.
Se este exemplo parece esdrúxulo e distante para você, peguemos exemplos de outras religiões, como a Cientologia. A Cientologia diz que somos alienígenas presos no corpo de humanos porque fomos expulsos pelo lorde intergalático e malígno Xenu de nossos planetas e jogados nos vulcões da Terra, aonde morremos e nossas almas finalmente entrarem nestes primatas que somos. Dificilmente você acha que isso é verdadeiro simplesmente porque não pode provar que é falso.
O mesmo é aplicado ao teísmo, cristianismo, islamismo e outros, de modo que a popularidade de uma crença não a torna mais verdadeira (ou os deuses egípicios, gregos e nórdicos estão escondidos por aí).
Tenho várias outras considerações sobre este debate, mas deixarei para outros posts. Espero que tenham compreendido o básico dessa postura questionadora que acredito ser a mais sensata.
Pra finalizar, gostaria de retomar novamente o Coscarelli, que compreende muito bem o cético quando diz: "
e aos descrentes cabe ouvir isso, refletir e perceber até onde as críticas de fato procedem."
É justamente isso que o leitor que comentou o post do Coscarelli
não fez. Ele foi parcial, afoito, agressivo, fez diversas generalizações e distorções. Isso tudo em dois breves comentários!
Por isso que acho importante ressaltar que a postura vista ali não é a minha diante deste debate, nem a de todos os ateus, agnósticos e/ou céticos. Da minha parte procurarei sempre o discernimento que sugeriu e, caso eu esteja fazendo críticas que não procedem, que me apontem para que eu reflita e, se for o caso, abrirei mão desta crítica sem o orgulho que tantas vezes é o que mantém as pessoas insistindo por não quererem admitir que estavam erradas.
E espero o mesmo de todos.
por Sampaio